Procon-SP multa Google e Apple por app que ‘envelhece’ rostos
A Fundação Procon-SP aplicou uma multa a Google e Apple por conta do FaceApp, aplicativo de ‘envelhecimento’ que virou febre na internet brasileira em julho. Segundo o Procon, as empresas desrespeitaram o Código de Defesa do Consumidor (CDC) ao disponibilizar em suas lojas para celular um app que não tem “Política de Privacidade” e “Termos de Uso” em português.
O app, de origem russa, tem os contratos escritos apenas em inglês.
Segundo o Procon, informação adequada, clara e em língua portuguesa é um
direito básico do consumidor. O Google recebeu a multa mais pesada: R$
9,9 milhões, valor máximo estipulado pelo CDC. A pena da Apple foi de R$
7,7 milhões. As diferenças nos valores, segundo a fundação, refletem a
diferença de receita das companhias no País.
Caso os contratos estivessem em português, os usuários ficariam sabendo,
como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo, que o FaceApp entrega dados
a anunciantes, além de se dar o direito de transferir os dados para
países que não tenham as mesmas leis de proteção de dados que o Brasil.
Fernando Capez, diretor-executivo da Fundação Procon-SP, disse à
reportagem que notificou por e-mail o Wireless Lab, empresa dona do
FaceApp, mas não teve resposta. A Wireless Lab não tem representação
oficial no Brasil.
“O FaceApp está fora do alcance da Justiça Brasileira, fora do alcance
dos órgãos de fiscalização. É praticamente uma empresa fantasma. Por
isso Google e Apple sofreram essa ação”, disse Capez.
Em julho, o Procon notificou Google e Apple sobre as violações do
FaceApp. A expectativa era de que, ao tomar ciência das violações, as
gigantes retirassem o app de suas lojas, o Google Play e a App Store, o
que não aconteceu.
No entendimento das empresas, elas cumprem a legislação local: os termos
de uso e política de privacidade de suas lojas, e até a descrição dos
apps oferecidos por terceiros, está em português.
Além disso, as lojas virtuais seriam uma plataforma para intermediar o
acesso do usuário a produtos ofertados na maioria das vezes por
desenvolvedores independentes. Google e Apple, portanto, não teriam
responsabilidade pelos contratos feitos entre os usuários e terceiros.
Os responsáveis por violações do CDC seriam dos próprios
desenvolvedores.
A explicação não agradou o Procon, que pensa que as gigantes se tornam responsáveis por apps que não têm representação local.
“Essa ação abre um precedente e uma discussão internacional. Quando você
toma ciência de uma oferta abusiva, a atitude correta é retirar o
aplicativo”, diz Capez.
Em nota, o Google disse: “Seguindo a filosofia do sistema operacional
Android, o Google Play é uma loja virtual aberta na qual o próprio
Google e terceiros podem disponibilizar aplicativos e jogos, que podem
ser baixados por usuários para serem utilizados em seus celulares. O
Marco Civil da Internet e o próprio Código de Defesa do Consumidor
dispõem que as lojas virtuais não devem ser responsabilizadas pelas
práticas e políticas de aplicativos de terceiros, por isso, tomaremos as
medidas necessárias para questionar a multa imposta pelo Procon.”
A Apple não quis comentar.
As duas companhias poderão recorrer à decisão em duas instâncias
administrativas do Procon, além de poder recorrer judicialmente. Caso
optem por pagar, terão desconto de 30% caso o pagamento seja realizado à
vista.
Rigor contra gigantes de tecnologia
Neste ano, as empresas de tecnologia estão sofrendo com a postura mais
rigorosa dos órgãos de proteção ao consumidor. Neste mês, a Secretaria
Nacional do Consumidor (Senacon), ligada ao Ministério da Justiça e
Segurança Pública, notificou Facebook e Google em casos diferentes.
Na época, Luciano Timm, Secretário Nacional do Consumidor, disse ao
jornal O Estado de S. Paulo que abordagem mais dura junto a empresas de
tecnologia faz parte também do interesse do governo brasileiro de
ingressar na OCDE. “Existe uma conexão absoluta entre os fatos. Já
fizemos o pedido para aderir a todo o normativo de defesa do
consumidor.”
Após as multas relacionada ao caso FaceApp, Fernando Capez disse que o
Procon está alinhado com a postura linha dura da Senacon. “Atuamos em
total sintonia, portanto o tratamento é mais duro. Essas empresas
investem pouco no Brasil, têm sede local com poucos funcionários e estão
entre as cinco mais ricas do mundo. O tratamento será mais rigoroso
nos termos da lei”, diz.