Governo do Paraná anuncia o fechamento do Ensino Médio noturno a partir de 2020

A Secretaria de Estado da Educação (SEED) anunciou na última quarta feira (20), o fim das turmas de Ensino Médio noturnos em todo o Estado. De acordo com a Seed a evasão escolar e o baixo número de matrículas justificam a ação. Em nota, a Seed informou que as mudanças serão graduais. No ano que vem não abrirão vagas para o primeiro ano do Ensino Médio no turno da noite, anunciando o fim gradativo das turmas noturnas.

O anúncio causou desespero e preocupação entre alunos, pais e professores. O aluno Galileu Adriano Godoy de Souza, estudante do Colégio estadual do Campo Pe. Victor Coelho de Almeida, na cidade de Pitanga, será um dos milhares de alunos prejudicados com essa medida. “Na minha escola todos os alunos trabalham nos turnos da manhã e tarde, todos dependem do ensino a noite. O único colégio que irá funcionar a noite fica na cidade e não terá transporte para os alunos que moram no sítio”. Explica o estudante. Ele também frisa a impossibilidade de muitos alunos poderem readequar suas rotinas para estudar em turno diurno.

Essa também é a realidade do estudante Daniel Froes, morador da Fazenda Rio Grande – região metropolitana de Curitiba, ele trabalha durante a tarde e faz curso profissionalizante pela manhã. “O curso de solda e minha profissão são muito importantes para mim, eu teria que abrir mão de muitas coisas para estudar durante o dia” afirma Daniel.

O diretor do Colégio Estadual Arthur de Azevedo, de São João do Ivaí, conhecido por professor Caveira, falou para o “Canal HP” sobre a normativa de fechamento das turmas noturnas. Segundo o diretor, o fim do ensino noturno espantou a todos “Esperávamos reformas no ensino noturno mas nunca o fechamento” diz o diretor. Ainda segundo a entrevista o Governo Estadual justificou a proposta comparando o Estado do Paraná com países como Canadá e Noruega , onde não existe ensino básico noturno . “Nessa afirmação o secretário de educação mostrou que não é familiarizado com a realidade do nosso país, muito menos com a realidade dos alunos que precisam trabalhar para ajudar no orçamento da família, essa é uma realidade dos 399 municípios do Paraná.” Ainda segundo o diretor, essa ação é mais uma forma de esconder a verdadeira situação da educação pública do Estado. Ele explica que melhorar a posição do Paraná no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) é a principal preocupação da Secretaria Estadual da Educação e há pesquisas que relatam que o os turnos da noite tem menor rendimento. “O Paraná está em oitavo lugar no IDEP no país sem contar com as turmas da noite esse número aumentará”. afirma o diretor.

Outra estratégia para usado pelo governo estadual para maquiar a situação são as propagandas sobre a abertura de mais de 20 mil vagas para o ensino médio para o ano que vem. A professora Alziramara Lusardo de Foz do Iguaçu comenta sobre a falsa propaganda. “Fica fácil abrir 20 mil vagas quando irão fechar o turno noturno quase no estado inteiro, o número de estudantes que irão ficar fora da educação básica o governo não mostra”. Diz a professora.

Camila Cavalheiro, estudante de pedagogia, foi aluna do ensino médio noturno e conta que seus colegas de turma eram trabalhadores em busca de concluir os estudos e ter um emprego e uma vida mais digna. Ela também afirma que o fechamento das turmas da noite prejudicará principalmente os jovens periféricos. “Se o governo pensa em fechar o ensino médio no período noturno, ele esta fechando as portas, dificultando ainda mais, a vida dos jovens das periferias. Esses que vivem a margem, que não tem oportunidades. Educação não pode ser vista como gasto, mas sim como investimento. Não tem como pensar em uma sociedade mais justa, uma sociedade evoluída, privando a população o acesso ao ensino.” Explica Camila.

Robson Adão Gomes também concluiu seus estudos à noite. Além de trabalhar durante o dia o dia o estudante de artes plásticas também frisa a diferença de perfil entre as turmas noturnas e diurnas. “Eu havia reprovado três anos e me sentia mal por ser mais velho. A noite as pessoas são mais velhas e também trabalham.” Diz o estudante. Ele também relata que sem as turmas noturnas ele provavelmente não teria concluído o ensino médio. “Estudando a noite, surgiu uma proposta de emprego e eu pude alongar os meus estudos. Estudando tarde eu não teria essa oportunidade e acabaria não completando os meus estudos”. Relata Robson.

Leonardo Yoshio de Marco Hori, diretor de assistência estudantil da UPES afirma que:

“O Governo do Estado propõe essas medidas sem olhar para a realidade de muitos jovens estudantes que necessitam trabalhar em período integral, muitas vezes, pra poder ajudar em casa. Essas medidas de encerrar o ensino médio noturno só mostra o grande descaso do nosso desgovernador que nunca visou a melhoria do ensino público e sim o sucateamento e forjar uma melhora em estatísticas, medidas essas que não teve uma consulta popular e principalmente um prévio estudo em como essa medida poderia afetar a comunidade como um todo.” Afirma o diretor.

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