Falta de trabalhador qualificado afeta metade das indústrias no país
A queda do
desemprego, que afetava 11,6 milhões de trabalhadores em todo o país no
fim de 2019, encontra uma barreira na formação média do trabalhador.
Cinco em cada dez indústrias brasileiras têm dificuldade em contratar
por causa da falta de trabalhador qualificado. A vaga existe, mas,
muitas vezes, a empresa não consegue preenchê-la. É o que revela
pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada hoje
(11).
Intitulada Sondagem Especial – Falta de Trabalhador Qualificado, o
estudo mostra que a escassez de mão de obra qualificada afeta
principalmente a indústria de biocombustíveis, onde 70% das empresas
dizem ter dificuldades com a qualificação dos trabalhadores.
Em seguida vêm as indústrias de móveis (64%), de vestuário e de produtos
de borracha (empatadas com 62%), têxtil e de máquinas de equipamentos
(60% cada).
Segundo a pesquisa, a função com maior carência de trabalhador
qualificado é a de operador, que afeta 96% das empresas que relataram o
problema.
A lista segue com empregados de nível técnico, que atinge 90% das
indústrias que enfrentam a falta de empregados com a formação adequada.
Também há escassez de qualificação nas áreas de venda e marketing (82%),
administrativa (81%), engenharia (77%), gerencial (75%) e pesquisa e
desenvolvimento (74%).
Perda de competitividade
Para a CNI, a falta de trabalhadores qualificados deve agravar-se à
medida que a economia se recuperar, tornando-se um dos principais
obstáculos para o aumento da produtividade e da competitividade no país.
A entidade sugere esforços de capacitação e de requalificação, no curto
prazo, e melhoria da qualidade da educação básica no Brasil, com
prioridade para a educação profissional, no médio e no longo prazo.
A baixa qualificação, ressalta o levantamento, dificulta a adoção de
novas tecnologias em 31% das grandes indústrias e em 13% das indústrias
de menor porte.
Entre as empresas com carência de mão de obra qualificada, 72% afirmam
que a busca por eficiência e pela redução de desperdício é comprometida,
60% dizem que a manutenção ou o aumento da qualidade dos produtos têm
prejuízo e 27% afirmam que deixam de aumentar a produção.
Gargalos
Num momento em que a indústria global atravessa a transição para a
indústria 4.0, marcada pela tecnologia, a CNI pede que a educação básica
dê ênfase às áreas de ciência, tecnologia, engenharia, artes e
matemática. Para a Confederação Nacional da Indústria, o ensino básico
também deve estimular a interdisciplinaridade (utilização simultânea de
várias áreas do conhecimento), a tomada de decisões e a resolução de
problemas.
O estudo destaca a baixa inserção da educação profissionalizante no
país. Enquanto o percentual de estudantes do ensino médio matriculados
em cursos profissionalizantes ultrapassa 40% na Alemanha, na Dinamarca,
na França e em Portugal e atinge cerca de 70% na Áustria e na Finlândia,
o percentual chega a apenas 9,7% no Brasil.
No país, cerca de dois a cada dez estudantes que concluem o nível médio
alcançam a educação superior. O restante, incluindo os que largaram a
escola, entra no mercado de trabalho sem preparo.
Políticas de qualificação de trabalhadores
Segundo a pesquisa, 91% das empresas com escassez de trabalhadores
qualificados promovem políticas e ações para lidar com o problema. E 85%
das indústrias afetadas pelo problema realizam treinamentos dentro da
própria empresa, 42% promovem capacitação fora da empresa, 28%
fortalecem a política de retenção do trabalhador, oferecendo salários e
benefícios, e 13% fecham parcerias com instituições de ensino.
Mesmo capacitando a mão de obra, 53% dos empresários afirmam que a má
qualidade da educação básica cria dificuldades nos investimentos em
formação e 49% apontam baixo interesse dos trabalhadores nos programas
de aperfeiçoamento.
A pesquisa foi realizada de 1º a 11 de outubro de 2019, com 1.946
indústrias de transformação e extrativas de todo o país. Desse total,
794 são pequenas, 687 são médias e 465 são de grande porte.
Agência Brasil