Historeando: Joaquim da Silva Prado; O primeiro negro campeão de futebol no Brasil
A rica e ilustre família Prado em São Paulo deu bons jogadores para o início do futebol paulista. O ponta-esquerda Joaquim da Silva Prado defendeu o Paulistano nos primeiros anos do século XX. Integrou o time campeão estadual de 1905.
O jornalista Mario Filho o retrata no livro “O negro no futebol brasileiro”: “Ninguém no Fluminense pensava em termos de cor, de raça. Se Joaquim Prado, winger-left do Paulistano, quer dizer, extrema-esquerda, preto, do ramo preto da família Prado, se transferisse para o Rio, seria recebido de braços abertos no Fluminense. Joaquim Prado era preto, mas de família ilustre, rico, vivia nas melhores rodas. Era uma espécie de Cônsul carioca em São Paulo.
Anunciava-se lá uma temporada de um clube daqui, Joaquim Prado, sem ninguém falar nada com ele, tomava as providências (…) Se morasse no Rio, jogaria no Fluminense. Escolheria o Fluminense naturalmente. Não só porque era um clube de gente fina, como ele, mas, também, porque era um clube de homens feitos, como ele. De responsabilidade. Joaquim Prado só ficaria bem no Fluminense”. Não existia nenhum tipo de proibição explicita para barrar a presença de afrodescendentes nos clubes filiados à Liga Paulista de Foot-Ball No livro “DO FUNDO DO BAÚ – Pioneirismos no Futebol Brasileiro”, de Laércio Becker, 2012, Joaquim aparece entre os jogadores no empate Paulistano 1 x 1 São Paulo Athletic Club, em 19 de junho de 1904, e em 1905, jogando o Campeonato Paulista na vitória do Paulistano por 3 a 0 sobre o Mackenzie, em 13 de maio.
Em 1902, 1903 e 1904, no campeonato da Liga Paulista de Foot-Ball, o São Paulo Athletic Club, time da colônia britânica de São Paulo foi campeão; em 1905 na Bahia no dia 10 de setembro termina o primeiro campeonato sendo campeão o Clube Internacional de Cricket, time da colônia britânica de Salvador. Em 1 de novembro de 1905 termina o 4º campeonato paulista sendo campeão o Club Athletico Paulistano.
Por ser campeão paulista com o Paulistano em 1905, Joaquim Prado é o primeiro jogador negro a tornar-se campeão no Brasil. Como narra Wilson Roberto Gambetta, em “A bola rolou: O Velódromo Paulista e os espetáculos de futebol, 1895-1916”, “Joaquim Prado e seus irmãos eram mestiços, filhos da ex-escrava Benedita Maria da Conceição. Armando, Mario e Juvenal disputaram campeonatos pelo time do Sport Club Internacional. O caçula Joaquim Prado, foi futebolista, jogou pelo Club Athletico Paulistano, primeiro no 2.o team desde 1903 e depois no 1.o team a partir de 1904, e foi membro da diretoria do CAP, 2º Tesoureiro em 1909 e 1º Tesoureiro em 1910. O pai dos quatro rapazes, o fazendeiro e turfista Eleuterio da Silva Prado, era primo do conselheiro Antonio Prado, foram amigos desde a juventude, contemporâneos no curso de direito, companheiros em viagens de estudo pela Europa, sócios fundadores do Jockey Club e dirigentes da Cia. Paulista de Estradas de Ferro.
A descendência mestiça de Eleuterio foi omitida pelo linhagista Silva Leme, autor que só registrou em seus estudos genealógicos as uniões legitimadas pela Igreja Católica. A sua obra informa que Eleuterio Prado morreu solteiro, quando na verdade ele teve dois casamentos informais e oito filhos”. O Club Athletico Paulistano com Joaquim Prado também enfrentou o Fluminense Foot-Ball Club em 1905 e o Botafogo Foot-Ball Club em 1909.
Joaquim era o caçula da família, nasceu em 5 de julho de 1886 e faleceu em 1961, em São Paulo, trabalhou na área de investigação da Polícia de São Paulo e casou-se com Yolanda Canova da Silva Prado.
Bibliografia Becker, Laércio – FUNDO DO BAÚ – Pioneirismos no Futebol Brasileiro, Campeões do futebol, 2012 – 2ª edição atualizado. Gambeta, Wilson – A Bola Rolou: O Velódromo Paulista e os espetáculos de futebol, 1895 – 1916, São Paulo, SESI-Editora, 2015.Publicação do Blog ofutebolantigamente.blogspot.com
Foto: Joaquim da Silva Prado – 1909 AHSP – Acervo fotográfico do Arquivo Histórico de São Paulo