O prefeito de Juranda, Bento Batista, vai ter que explicar à Procuradoria Geral de Justiça porque não denunciou o suposto pedido de dinheiro que teria sido feito por vereadores presos em flagrante no domingo, 15, em Campo Mourão, após receberem R$ 75 mil, divididos em três cheques de R$ 25 mil da ex-prefeita de Juranda, Leila Miotto Amadei (PSC), sob a justificativa de apresentar um parecer favorável à aprovação das contas relativas ao ano de 2009. Em entrevista à Gazeta do Povo, o prefeito revelou que na semana passada havia recebido a proposta do grupo, através de um advogado e um contador, sem revelar os nomes dos envolvidos e os valores.
Com base na declaração de Batista, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) informou que vai repassar cópias do inquérito aberto com as prisões dos vereadores José Theodoro Alves Neto (PTB),Pedro Gonçalves (PMDB) e Nelson Richard Pinto (PSL) – membros da comissão de Finanças da câmara municipal – para a Procuradoria, pedindo a apuração da responsabilidade criminal do prefeito.
“Vítima se comporta como vítima, denunciando o caso as autoridades e se indignando com a exigência ou pedido de propina. Se o prefeito não agiu como agente corruptor dos vereadores para a ilícita reprovação das contas da ex-prefeita, no mínimo, prevaricou e foi condescendente, ou seja, em tese incorreu em crime”, disse o chefe do Gaeco em Maringá, Laércio Januário de Almeida.
Batista também é citado em uma gravação, obtida com exclusividade, durante uma negociação mantida entre um ex-assessor da ex-prefeita, identificado como Marcelo, e os vereadores José Theodoro Alves Neto e Pedro Gonçalves.
O encontro teria ocorrido na quinta-feira (12) na residência do vereador Gonçalves. Durante a conversa, gravada durante 43min46seg, o vereador Alves Neto, conhecido como Zezinho, diz que o prefeito estaria disposto a “abrir a mão demais” e teria oferecido a quantia de R$ 300 mil para seis vereadores, R$ 50 mil para cada um, com objetivo de conseguir a reprovação das contas de Leila. O vereador chega a citar que o prefeito teria dito que no Legislativo de Juranda “quem pagar mais, leva”.
No áudio, Zezinho e Gonçalves apresentam o pedido de dinheiro como “um bom negócio” e alegam que a exigência de pagamento de R$ 150 mil “é mixaria diante dos benefícios”. Eles explicam que se as contas fossem reprovadas, a ex-prefeita teria gastos superiores a valor solicitado para bancar advogados, em caso de optar por disputar a prefeitura no próximo ano. Os vereadores dizem ainda que o advogado e o contador da Câmara fariam o que eles “mandassem”em relação ao parecer.
NA CADEIA
Os três vereadores, que representam 1/3 da composição da Câmara Municipal de Juranda, continuam presos na cadeia pública de Campo Mourão. A prática de concussão pelo qual são acusados, está inserida na lista de crimes inafiançáveis imputados a funcionários públicos e a soltura depende de decisão judicial.
O advogado Everton Caldeira, responsável pela defesa dos vereadores, disse que não teve acesso completo aos autos e informou que seus clientes somente irão depor em juízo. Para o advogado, a citação do nome do prefeito por seus clientes – registrada na gravação – “é boato”. Caldeira pretende conseguir a liberdade provisória dos vereadores nos próximos dias.
NÃO DISSE
Nesta segunda-feira (16), o prefeito Bento Batista retificou as informações publicadas no domingo (15), com base na entrevista gravada com ele. Batista afirmou que conversou com um advogado que teria sido procurado pelos vereadores “para discutir sobre um parecer pela desaprovação das contas da ex-prefeita. Eu não conversei, não acei…nem discuti, porque não havia interesse meu (sic)”, disse ele. O prefeito disse que vai acionar o jornal na Justiça, negando suas declarações anteriores na entrevista gravada.
ENTENDA O CASO
Membros da comissão de Finanças do Legislativo, os vereadores José Theodoro Alves Neto, Pedro Gonçalves e Nelson Richard Pinto procuraram um ex-assessor da ex-prefeita, solicitando a quantia de R$ 150 mil para aprovar um parecer favorável. Informada sobre a exigência, Leila procurou o Gaeco em Maringá e denunciou o caso, apresentando inclusive uma gravação onde os vereadores falam abertamente do pedido do dinheiro.
Na tarde de domingo, os vereadores entraram em contato novamente e o produtor rural Davoncir Amadei, marido da ex-prefeita, foi ao encontro dele em um posto de combustível em Campo Mourão. No local, Davoncir explicou que não tinha dinheiro devido ao final de semana e diante da exigência, preencheu três cheques , no valor de R$ 25 mil para cada vereador, prometendo que entregaria o restante, R$ 75 mil em dinheiro, durante a semana. O delegado da 16ª Subdivisão Policial, Nagib Palma, estava no local em operação conjunta com o Gaeco e deu voz de prisão em flagrante aos vereadores. (Gazeta do Povo).